segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mesa redonda internacional?

Antes de pegar no sono liguei a TV na Telesur, aquele canal de TV idealizado por Chavez para ser a voz bolivariana em todos os países da América Latina. E o programa da vez se chamava Mesa Redonda Internacional.

A internacionalidade do programa estava garantida pela presença do professor cubano, um homem bastante inteligente e ponderado, diga-se de passagem, que compunha a mesa com o âncora e o líder partidário venezuelanos de sempre.

O tema: os primeiros 7 meses de Obama como presidente dos Estados Unidos, sua atuação em relação à crise, sua política internacional e a reforma do sistema de saúde.

Achei muito bom poder ouvir o que pensa um acadêmico cubano, especialista no assunto e livre da prisão à ideologia, sobre o que se passa nos Estados Unidos e seu papel no mundo (quanto aos outros dois participantes, o fato de abrirem a boca era a senha para eu trocar de canal para a trasmissão do Miss Universo).

E o homem disse coisas relevantes, cujos highlights eu pinço aqui:

- que a atuação em relação à crise foi focada no setor bancário. Nada de resgatar o New Deal de Roosevelt (afinal, o mundo hoje é outro) e que o fato dos bancos estarem dando lucros é bom sinal, mas há de se esperar para ver se será suficiente para trazer a confiança de volta, criar empregos e reativar o consumo.

- que a política externa de Obama, ao contrário da interna, tem muito pouco de sua marca pessoal. É uma política claramente conduzida pelo partido e Hillary segue a cartilha de Madeleine Albright, secretária de Estado durante a gestão de seu marido. A decisão de abandonar o Iraque e dar foco ao Afeganistão já era citada desde 2001, por Albright, como o caminho a seguir, pois o recado é dado ao Teleban (e qualquer outro que queira se meter com os americanos), a indústria bélica continua aquecida e a imagem transmitida para o mundo não fica tão comprometida.

- que a relação com a América Latina nem aparece na lista de prioridades.

- que a situação do sistema de saúde vai exigir uma dresteza política de Obama superior à destreza que ele mostrou nos seus discursos para romper o racismo e o medo e poder se eleger. Falar à sociedade americana da necessidade de uma opção pública de plano de saúde, mesmo quando o sistema atual é reconhecidamente ineficaz (deixando cerca de 1/4 da população descoberta), dá nós nos estômagos, mexe com os instintos básicos dos políticos e eleitores republicanos e, inclusive, dos setores conservadores do partido democrata. A quantidade de interesses divergentes, de gente muito grande, é tanta, e o dinheiro a ser investido para viabilizar o plano é tanto (em um país com as contas públicas nada balanceadas), que a briga comprada por Obama é, com certeza, maior que a comprada porBush para viabilizar a guerra no Iraque.
Obama não apresentou uma proposta, mas princípios para que a proposta fosse elaborada pelo congresso. No entanto, uma reforma que não contemplasse a existencia de uma opção pública, com a qual uma parte do congresso acenou, já foi dada como inviável pela cúpula governista.

- que, no segundo inning, Obama perde por uma ou duas corridas.

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