sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ley orgánica de educación

Desde que cheguei à Venezuela, semana a semana, aconteceram fatos que evidenciam que o plano socialista de Chavez é, de fato - e coerente com o discurso -, um plano revolucionário, que está sendo posto em marcha, dia a dia, de maneira rápida e radical. A cada dia me deparo com um fato novo, uma manobra a mais, uma nova lei aprovada, uma nova instituição.

Se semana retrasada foi a invasão dos estúdios da Globovisión e semana passada foi o incidente com a Colômbia - que alega que o governo venezuelano forneceu armas para as FARC- , no qual Chávez chegou a retirar o embaixador veneuelano de Bogotá, essa semana foi a vez de a votação do nova lei organica de educação de Chávez tomar conta do noticiário.

A lei, que a oposição alega ser doutrinária, aumenta consideravelmente a influência do Estado no ensino do país, em todos os níveis. A lei versa sobre conteúdo programático, metodologia, pedagogia, organização, tudo. Tira a autonomia das universidades e submete o orçamento de ensino e pesquisa às intenções do governo (teria Chávez se inspirado em nosso querido governador José Serra?). Alguns pontos da lei chegam a soar bizarros como o fato de se eliminar o ensino religioso do programa, mesmo em instituições privadas de tal natureza.

O que me assusta na lei é um artigo que trata sobre os conselhos de administração escolar. Através dessa figura, os rumos da escola passariam a ser definidos em uma reunião em que estariam presentes docentes, diretores, pais e alunos. A idéia seria ótima, se não existisse nesse conselho a figura de um funcionário da estrutura do Estado, responsável por garantir que os rumos da discussão estejam dentro da doutrina socialista bolivariana.

Em meio a protestos violentos, em que vários cidadãos, sobetudo jornaistas, sairam gravemente feridos, a lei foi aprovada pela Assembléia Nacional, em que o PSUV de Chávez tem maioria, à meia noite de ontem. A oposição paga o preço pelo boicote que fez às eleições legilativas. Tenho que concordar com a máxima de que se há algo pior que Chávez, é a oposição feita a ele.

O transito em Caracas, ontem a noite e hoje de manhã estava impossível. Eu conversava com o taxista, Seu Alquimedes, sobre a nova lei, enquanto ele fugia da autopista e tentava, sem sucesso, escapar do transito pela Francisco de Miranda. Ele estava preocupadíssimo - tem netos novos e não sabe o que vai ser da educação deles. Disse que acha Chavez arrogante demais pra reconhecer erros, aprender e voltar atrás e por isso perdeu a esperança que já teve de que a revolução pudesse trazer algo de bom. Essa foi a primeira vez que fui do Meliá ao escritório com o rádio sintonizado nas notícias. O seu Alquimedes sempre preferiu as piadas e a Salsa do Fulchola na FM Center.

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