sexta-feira, 14 de agosto de 2009

La cola


Uma coisa que chama a atenção na Venezuela são as filas. Aqui existe fila pra tudo: caixas eletrônicos, bancos, cinema, teatro, fast-food, lojas de qualquer tipo, postos de gasolina, tudo.

Desde o primeiro dia notei essa particularidade das coisas por cá e me perguntei qual seria a razão de tudo isso. Minha hipótese (é só uma hipótese) foi construída empiricamente a partir de algumas observações que fiz, já nas primeiras semanas.

Acredito que o que ocorra por cá seja um desequilíbrio evidente entre oferta e demanda (uh, gênio...) causada, por um lado, por um estímulo grande ao consumo gerado pelos programas estatais de distribuição de renda e, por outro, pela aversão ao investimento dos empresários, locais e estrangeiros, gerado pelo cenário... digamos... pouco confiável da economia e política locais.

Nunca na história desse país (e aqui a citação tem sim um caráter de analogia) tanta gente teve possibilidades reais de consumir . As sucessivas subidas do salário mímimo e o forte investimento em programas de distribuição de renda deram a milhões de venezuelanos a possibilidade de comprar (o impacto disso nas contas públicas é um problema de outra natureza, que não quero discutir aqui). E eles compram desesperadamente. O impulso consumista da população local, diz-se, é comparável ao dos americanos. Mas se, no Brasil, os programas de renda básica geraram um boom no mercado interno capaz de aquecer a produção industrial e gerar empregos de uma maneira poucas vezes vista, o mesmo não ocorre por aqui.

Em um cenário em que empresas de diversos setores são nacionalizadas, em que o estado fecha empresas preventivamente "para averiguações", em que a remessa de lucros é extremamente limitada, em que a taxa de câmbio é fixada por decreto (o que gera, obviamente, um mercado paralelo completamente distorcido) e em que o capital é visto como nada mais que uma ferramenta de exploração do trabalho e, portanto, inimigo do Estado, não é de se espantar que a propensão dos empresários a realizar investimentos seja tão baixa, mesmo com a demanda crescente. Parece simplemente lógico que as taxas de juros aqui sejam as mais altas do mundo.

Lembro desde o primeiro dia meu espanto com o fato de não ter visto guindastes em Caracas. Poucos prédios em construção, poucos empreendimentos. Ninguem que investir aqui. Obviamente as taxas de inflação, que só não são maiores que 30% a.a. nas estatísticas oficiais, só corroboram com a hipótese.

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